Pedra Redonda
Tenho a mão direita nas pedras molhadas do mar. Ao nível dos meus olhos cai a rebentação das ondas, água pesada que trabalha a matéria até que se torne redonda. Espalha-se a espuma e tudo é branco. Ao fundo levantam as gaivotas no instante anterior à chuva que me molhará o rosto. Mantém-te à superfície ... mantém-te à superfície e leva uma pedra redonda contigo. Diz o mar.
Português, diria, é ter o mar à frente dos olhos e saber que ali está tudo e nada mais.
Esquece cada palavra que atiras à vida. Deixa que elas corram para o fundo do mar. E aguarda, atento à observação das ondas, o retorno de cada sílaba.
Julgar fatal o que só cá está para ser transformado, nós, é andar com a bússola partida.
É na canção que o teu barco navega sobre a linha dourada no meio do mar.
Sol e pedras redondas ... Entender o que há além da simplicidade é desfazer-se em essência. Ali principia continuamente a vida, ali, aonde nada importa saber. Se há palavras que importam? Só as que transformam, de nada é feito o pensamento.